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Caetano Ximenes 15 de Outubro de 1954 - 25 de Agosto de 2023

2023-08-25 - In Memoriam

Caetano Ximenes

15 de Outubro de 1954 - 25 de Agosto de 2023

Caetano Lopes Ximenes, nome de código TG, nasceu a 15 de Outubro de 1954 na aldeia de Loru, Pitilete, Tutuala.

Dono do Abrigo subterrâneo de Mirtuto – com sua esposa Isabel António Trindade, uma vida de dedicação à Luta - base permanente do Chefe do Conselho Executivo da Luta/Frente Armada-CEL/FA, Nino Konis Santana, desde a sua construção, finais de 1994, até à sua morte, 11 de Março de 1998.

Em entrevista ao Arquivo e Museu da Resistência Timorense, no âmbito do Projecto de Recolha da Memória Oral, recordava então que Konis quando entrou pela primeira vez em Mirtuto, foi quem deu a ideia da ali construir um Abrigo Subterrâneo, logo a seguir ao pequeno de Ersoi.

«Em 1994 veio esconder-se aqui no quarto durante três meses. As forças estavam num lugar, o Comandante Dudo na sala de visitas, aqui onde está a televisão.» Nessa ocasião, «disse-me, “nós os dois somos da mesma terra, quando falamos fataluku as pessoas não entendem, os vizinhos não entendem, então se puderes fazer o abrigo para colocar as armas, escondemos aqui sem ninguém saber, falamos em fataluku ninguém sabe».

Fez os estudos em Fuiloro, Tutuala. Aí frequentou a Escola Primária, e, mais tarde, prosseguia a sua educação formal no Colégio Dom Bosco.

O serviço militar obrigatório durante o tempo colonial português obrigou-o a deslocar-se para Ermera. Aqui se fixou, em resultado do casamento com a sua esposa, Isabel Trindade, nascida em Rai-Lori, Mirtuto, a cinco  de Março de 1951.

Também a Caetano, tal como a milhares e milhares de outros timorenses, a Invasão obrigou-o a refugiar-se as montanhas, onde foi Comandante de Companhia, em Rusa Fuik, Manu Sahe, Subdistrito de Hatolia, até 1979, em momento da rendição em massa. Era também  “responsável pelo consumo, alimentação, da Base de Apoio”, e tinha como  Comandante do Sector, Filomeno Paixão.

Na vila, passa então à actividade Clandestina, que prossegue até ao final da Luta.

A sua ocupação na Igreja de Ermera, catequista, é a chave para afastar as atenções do inimigo de todo o seu profundo envolvimento na Resistência Clandestina. Trabalhava com o Padre Mário Belo – destacada figura da Igreja no profundo apoio à Resistência Armada/Clandestina.

É precisamente o facto de ser catequista, como o próprio recordava, que lhe dá a ideia de construir um altar para, logo ali ao lado, construir o acesso ao abrigo subterrâneo que serviu de base a Nino Konis Santana, Chefe do Conselho Executivo da Luta, Frente Armada/Frente Clandestina, até à sua morte. Dessa forma, dizia Caetano, mesmo quando o inimigo acampou na casa durante dias e dias, era possível entregar as refeições a Konis e a seus homens, que, no esconderijo, aguardavam a retirada das forças militares indonésias. Punha a lipa, e debaixo dela levava a panela com as refeições, explicando aos militares que ia orar...

Apesar de todas as desconfianças do ocupante, o Abrigo nunca foi descoberto.

Em Janeiro de 2002 ali foi recuperado todo o importantíssimo Arquivo de Konis Santana, guardado anos e anos a fio pelos donos da casa e família, no maior dos segredos, continuando, assim, a desafiar a morte.

Uma simples página dum documento, uma fotografia, que fosse encontrado pelo inimigo significava sentença de morte para toda a família da casa e famílias da área circundante. Ainda assim, e graças a uma impar coragem e determinação, foi guardado intacto constituindo o núcleo central do que é hoje o Arquivo e Museu da Resistência Timorense.

A toda a Família, em especial a sua esposa, Isabel Trindade, e a seus filhos - Clementino Ximenes Trindade (Apiuku); Cesaltina Ximenes Trindade; Maria do Céu Soares; Dionísio Caetano de Jesus; Gabriela Vidigal de Jesus  Elpidio Salvador Ximenes (Katcholy) o Arquivo e Museu da Resistência Timorense apresenta as mais sentidas e profundas condolências.

Que sua Alma repouse em Paz nas Sagradas Montanhas Azuis de Timor Loro Sa´e.

Honra e Gratidão.

Até sempre Caetano Ximenes

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