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Professor Doutor José Mattoso 22 de Janeiro de 1933 - 8 de Julho de 2023
2023-07-10 - In Memoriam
Professor Doutor José Mattoso
22 de Janeiro de 1933 - 8 de Julho de 2023.
Na impossibilidade de o fazer pessoalmente, vimos por este meio apresentar à família e amigos os mais sinceros e profundos sentimentos pela partida do Vosso mui querido ente.
No outro lado do Mar - onde o “Sol logo em Nascendo vê primeiro” - Timor Loro Sa’e, foi a Terra Sagrada que o Saudoso Professor José Mattoso escolheu como sua casa durante vários anos. A ela se entregou e dedicou de corpo e Alma, movido tão só pela paixão de contribuir para a construção da mais jovem nação do século XXI, Timor-Leste.
Entre os vários contributos do Professor Doutor José Mattoso para com a Memória da Heróica, Longa e Sofrida, Luta de Libertação Nacional de Timor-Leste, nunca esqueceremos que esteve na génese daquilo que hoje é o Arquivo e Museu da Resistência Timorense.
Kay Rala Xanana Gusmão ainda antes da Restauração da Independência de Timor-Leste, inícios de 2002, confiou-lhe a dificílima tarefa de ser o guardião de um do mais importantes espólios documentais da Resistência, o de Nino Konis Santana, que se encontrava à guarda dos donos do seu Abrigo de Mirtuto, Caetano Ximenes e Isabel Trindade.
Firmado um Protocolo de entendimento entre o então Presidente da República Democrática de Timor-Leste, Kay Rala Xanana Gusmão e a Fundação Mário Soares, através do seu Presidente, Mário Soares, a fim de toda a documentação ser tratada e preservada em Lisboa, devido às então frágeis condições de segurança no território, o Saudoso Professor José Mattoso é indicado com o responsável em Dili para mediar as relações com a FMS.
Nesse âmbito, procedeu á organização e pré-inventariação de milhares de documentos, que hoje constituem o núcleo central do Arquivo e Museu da Resistência Timorense.
De igual modo, a solicitação do Padre João Felgueiras, José Mattoso procedeu á organização dos milhares de documentos dos Jesuítas em Timor-Leste, de modo a serem enviados para a Fundação Mário Soares, preservados, tratados, digitalizados, classificados e colocada à consulta no Arquivo da Resistência Timorenses.
Com este incomensurável trabalho, com a minúcia e dedicação que lhe eram reconhecidas, estabeleceu laços de profunda Admiração e Respeito pelo Movimento de Guerrilha que lutou durante 24 anos na maior das dificuldades, de toda a ordem, contra um dos exércitos mais poderosos da Ásia, apoiado pelas superpotências mundiais, nomeadamente a Austrália e os Estados Unidos da América.
Entre os milhares de documentos que leu, um Guerrilheiro da Luta de Libertação Nacional tocou-o particularmente – O Comandante Nino Konis Santana – devido à sua dimensão Humana e craveira intelectual.
José Mattoso defendia que o Movimento de Guerrilha Timorense devido às suas especificidades – qual luta de David contra Golias – é parte integrante do Património da Humanidade, e que, como tal, deveria ser dado a conhecer ao Mundo. Repetia amiúde que deveria ser uma lição para os humanos, para que as inqualificáveis crueldades que os timorenses sofreram ás garras dos militares indonésios não mais se voltassem a repetir em qualquer espaço do Planeta.
Daí, decidiu escrever “A DIGNIDADE – Konis Santana e a Resistência Timorense”, que mais não é do que a história dos 24 da Luta tendo por base as fontes primárias, os documentos que leu e estudou. A primeira Edição, em língua portuguesa, é dada à estampa em 2005 pela Temas e Debates. A versão em tétum é publicada em 2012 sob a chancela da Lidel.
O Arquivo e Museu da Resistência Timorense, os Guerrilheiros da Luta de Libertação Nacional, os responsáveis da Frente Armada, da Frente Clandestina e da Frente Diplomática, reconhecem para todo o sempre a ímpar Obra de José Mattoso para com a sua Pátria, de modo voluntário, com total dedicação e entrega.
À Família, Amigos, endereçamos as nossas mais sentidas condolências.
Gratidão Prof. Mattoso.
Até sempre.
Dili, Timor-Leste, 08 de Julho de 2023