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Abrigo de Aiceo, Ermera

Detalhe de abrigo

Construção

Ai Céu, é um lugar da pequena aldeia de Mate Resto, Suco de Raimerhei, Ermera, situado em pleno cafezal. De dificílimo acesso, estreita estrada sulcada na montanha, foi ponto de passagem do Comandante-em-Chefe das FALINTIL, Kay Rala Xanana Gusmão aquando da sua deslocação de Dili para Ermera, em Abril de 1991, a fim de continuar o processo de reorganização da Região. Foi também o local escolhido por Nino Konis Santana para a construção dum abrigo subterrâneo, estrategicamente complementar aos já existentes, em caso de ataque das forças militares ocupantes e necessidade de evacuar para outras áreas.

Após a captura de Xanana Gusmão, 20 de Novembro de 1992, e do seu sucessor Ma'Huno, em Abril de 1993, a liderança recai sobre Nino Konis Santana, que se encontrava nas áreas da Região Haksolok, como já referimos. Konis desloca-se de Ainaro para Aicéu, através de Atsabe - Cailaco – Hatulia – Aihatatu, ali chegando a seis de Novembro de 1993, a casa de Domingos Borges "Tahara", onde também estava Angelino Brites "Mesak".

Recorda Afonso Salsinha que em finais de Dezembro de 1993, um grupo de elementos das redes clandestinas de Ermera foi a Ai Céu a fim e se encontrar com Nino Konis Santana, ai tendo celebrado a festa de Ano Novo. O grupo incluía, para além de Afonso Salsinha, Eduardo de Deus Barreto "Dusae", Liberata; Gabriel Ximenes "Fitun"; Victor dos Santos "Clinton, e Adolfo Maia "Lele".

Naquele encontro, Konis nomeou Dusae como Secretário da Região 7 de Dezembro, e como Vices, Victor dos Santos "Lokomeu", e Gabriel Ximenes "Fitun".

Entretanto, Konis movimenta-se para Ermera. A partir daí dá orientações para a construção dum abrigo subterrâneo em Aicéu.

Para cumprir a orientação de Konis, foi constituído um grupo, coordenado por Angelino Brites, código Mesak, de que faziam parte Domingos Borges "Tahara", e Abel de Jesus Soares "Coli". Fizeram o levantamento de possíveis locais para a escavação do abrigo, tendo escolhido um espaço no meio do cafezal, em Urbesi, próximo das casas.

Escavar debaixo da chuva

Os responsáveis decidiram fazer a escavação debaixo da chuva, para que o ocupante não desconfiasse da tarefa. Acresce que a chuva levava a terra escavada.  O objectivo era fazer uma caixa de madeira, mas as tábuas foram engolidas pela terra, amolecida pela chuva.

Conforme refere Abelito Coli, nesta primeira tentativa de construção de um espaço subterrâneo participaram, o próprio; Tahara; Júlio Salsinha "Mauhi"; José Borges "Makikit", António de Jesus Salsinha, Mali; Sebastião dos Santos "Laloran", Adriano Borges "Usadani" e Armando Madeira "Hadomi"

Decidiram escolher um segundo lugar, a cerca de 100 metros do primeiro. Mais uma vez, as condições do solo não permitiram concluir os trabalhos, tudo desmoronou, como recordam Abelito "Coli" e Domingos "Tahara".

“Ficaram todos desmoralizados já não queriam participar em mais nenhuma tentativa. Então, uma semana depois, eu e a minha esposa, Armanda Imaculada Martins "Lou Rai", os dois sozinhos, tomámos a iniciativa de ir escavar a terra onde as tábuas tinham ficado soterradas a primeira vez, em Urbesi”, diz Abelito. Celestino Exposto, Abrigo, foi o responsável pelos trabalhos de pedreiro e carpinteiro.

Colaboraram os guerrilheiros Dudo, Leao Maulohi, Halibur e Moris, e os seguranças Buka Domin, Rusa Fuik.

A construção foi finalizada em Maio de 1995, e fechada com um juramento. Para dissimular todo o processo de construção do abrigo e desviar as atenções do inimigo, Abelito Coli decidiu, em paralelo, fazer uma pequena casa nas proximidades. Assim, havia uma justificação para todos os materiais de construção levados para o local e destinados ao abrigo.

Situado a cerca de 200 metros, da residência de Domingos Borges "Tahara", trata-se do único Abrigo subterrâneo da Região IV situado fora de uma casa de habitação.

Nunca houve necessidade de ser utilizado pelo Comando da Luta, sedeado em Ermera.

FICHA DO ABRIGO

Ano de construção: 1995

Local: Aldeia Ai Céu, Mate Resto, Raimarhei, Ermera.

Construtores: Domingos Borges "Tahara"; Abel de Jesus Soares "Coli"; Sebastião dos Santos "Laloran"; José Borges "Makikit",  António Salsinha de Jesus "Nomali", Júlio Salsinha "Mau-Hui", Adriano Borges "Lisadae", Armando Madeira "Hadomi", Lino Martins Borges "Oan Terus", Lourenço dos Santos "Tarak", Celestino Exposto "Abrigo", Alberto dos Santos Exposto "Kolibere", Ernesto Salsinha "Busadani"; Herculano Soares "Anin Fuik" Abílio Ximenes "Anin La Kona", Joaquim Florindo Salsinha "Alat", Afonso Loe-Meta Salsinha "Koko La Fera" e Agustinho Maubere Madeira, "Bali Tasi".

Utilizado: Halibur, Deométro Soares "Moris Susar".

Reabilitação: 2016, financiada pelo Estado da RDTL através do orçamento do AMRT. Implementado pelo AMRT. Reabilitação incluiu reforço estrutural do abrigo, reabilitação do interior de acordo com original, construção de instalações sanitárias de apoio .

 

 

 

 

 

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